quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
terça-feira, 28 de julho de 2009
sexta-feira, 19 de junho de 2009
terça-feira, 16 de junho de 2009
Aos Nossos Filhos
Elis Regina
Composição: Ivan Lins/Vitor Martins
Perdoem a cara amarrada,
Perdoem a falta de abraço,
Perdoem a falta de espaço,
Os dias eram assim...
Perdoem por tantos perigos,
Perdoem a falta de abrigo,
Perdoem a falta de amigos,
Os dias eram assim...
Perdoem a falta de folhas,
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha,
Os dias eram assim...
E quando passarem a limpo,
E quando cortarem os laços,
E quando soltarem os cintos,
Façam a festa por mim...
E quando lavarem a mágoa,
E quando lavarem a alma
E quando lavarem a água,
Lavem os olhos por mim...
Quando brotarem as flores,
Quando crescerem as matas,
Quando colherem os frutos,
Digam o gosto pra mim...
Digam o gosto pra mim...
Fragmentos de uma biografia tosca
(Pintura de William Blake, de Satã torturando a Jó)
Mas passou.
E rirão um risinho comísero, de lado, baixinho.
Dela brotaram poesias, transpirações ameaçando a inspiração,
E por fim a inação. A espera.
Contentou-se em passar.
(Entendeu que a vida, afinal, é só isso)
Dela dirão, um dia, que foi a moderna escrava de classe média. Que obrava como um Jó, mas era dura de dar dó e se iludia que isso era apenas um estado passageiro - tanto a penúria quanto o pesado fardo.
Que sentia mais falta, às vezes, da TV por satélite que dos livros.
Que queria ser santa, mas na primeira vez que riram da idéia, desistiu.
Que gostava de ser caridosa, mas na quinta vez em que a lograram, fechou a mão.
Que pensava ser sexy, mas na quinta década da vida descobriu que havia duas já não podia ser.
Dela dirão que era modesta, humana e sensível.
(Outros dirão que era dissimulada, santarrona e chorona).
Que gostava de palácios, mas seria feliz com a choupana.
Que invejava os viajantes, mas desejava mesmo era apenas um jardim.
Que se enternecia pelos amantes, mas foi sozinha - até o fim.
Dela, dirão que passou como todos passam, pensando que de algum modo poderia ser eterna.
Mas passou.
E rirão um risinho comísero, de lado, baixinho.
Dela brotaram poesias, transpirações ameaçando a inspiração,
E por fim a inação. A espera.
Contentou-se em passar.
(Entendeu que a vida, afinal, é só isso)
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